Descobri que moro com um inquilino. Desse que vira e mexe aparecem e fazem um barulho danado. Sem contrato, sem eu saber quando vai embora. Só chega, abre a porta, faz bagunça e fica.
E fica.
E fica.
Esse inquilino é foda.
Espaçoso.
Decidiu que vai morar aqui em mim e pronto.
Chega a hora que quer e vai embora quando bem entende. E é claro, sobra pra mim arrumar toda a bagunça que ele deixa.
Falei dele pra minha psicóloga..
Eu não sabia, mas ele tem um nome.
Animus
Animus tirânico.
Não basta ser inquilino, tem que ser tirânico ainda.
E eu reconheço essa tirania, ele adora me botar pra baixo e destacar pra mim mesma coisas que eu gostaria de deixar no subsolo. Não adianta o que eu fale, o que ele tem como verdade é isso e pronto! Sem conversa!
Como toda boa pessoa que se encontra perdida, busquei resposta pra saber que que eu faço com esse tralha.
Não gosto dele aqui.
Ele tem que sair.
Não aguento mais ele me pondo pra baixo
Minha psicóloga? Riu.
Disse que ele não vai pra lugar nenhum.
E que ele fica e provavelmente vai ficar minha vida toda.
Ele faz parte da vida.
E faz parte de mim.
Parece que tô encontrando ultimamente uns becos mentais que estão sendo habitados, e nem sempre são habitados por gente legais.
Parece que vou ter que lidar com eles.
Tô pensando em fazer um bolo.
De cenoura com cobertura de chocolate.
E passar um café.
Acho que vou lá na casa do inquilino a tarde.
Sentar pra conversar e conhecer um pouco mais.
Pra ver qual que é.
Quem sabe assim.
Ele me incomode menos e a gente aprenda a co-viver juntos.
